Um senhor entra na loja de capas para celular:
– Moço, tira tudo essas músicas do pendrive, nenhuma presta.
O vendedor:
– Mas nem do Raul Seixas o senhor gostou?
– Não. Tira tudo. Coloca aí Amado Batista e Roberto Carlos, mas só dos anos 60 até 1990. Coloca 50 reais de música.
Enquanto isso, Alexandre espera o xerox ficar pronto.
Uma mulher usando máscara de tecido (com buraquinhos para respirar) entra na loja:
– Boa tarde, minha filha ganhou este tablet da avó mas a menina só usa celular e computador. Você compra tablet, moço? Tá novo.
O vendedor:
– Deixa eu dar uma pesquisada na internet.
Alguns minutos depois:
– 50 reais?
– Nãoooo moço, vale mais né! É da samsung!
– Tá, vou ter que ligar pra uns lugares, peraí.
Ao mesmo tempo, o senhor do pendrive se despede:
– Meu filho, você é o melhor vendedor de Goiânia!
O xerox fica pronto.
Copiosos e singulares dias de pandemia.
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Fotoetnografar origens
[Para André e Ana Elisa]
Chavela Vargas canta e não posso me concentrar: El último trago, e olha que nem posso beber. É a dor de garganta que perdura, COVID no te quiero. Queria mesmo é contar sobre Galeano, se Chavela deixar.
Anteontem vasculhei cantos e prateleiras em busca do Livro dos Abraços. Queria reler A função da arte/1 para rememorar imensidões que não cabem no olhar. Ao abrir o livro, encontrei Clara Cuevas, bem latino-americana, desejando-me ¡suerte! Era agosto de 2007, petit pavê em desordem no Largo diante do Fire Fox. Disseram-se há pouco que não sou do lugar de onde nasci. Não protestei. E Clara ainda está no México.
Há dois dias ouvi histórias sobre o ser-caiçara emergente na vida de um menino. Vir-a-ser em imagens das idas e vindas sobre as águas de Cananéia. Ele, o menino, encontrou histórias de lugares mais para lá e mais para cá, deslocamentos líquidos que desmancham bordas entre São Paulo e Paraná.
Ali, onde vivem homens e mulheres, bisavôs e bisavós, as imagens produzidas por netos e bisnetos formam constelações. Luzes sinalizam passados inalcançáveis e elas, as imagens, aproximam-se umas das outras em resposta ao apelo navegante: – Me ajuda a lembrar!