Cintila

Olho para cima. Uma árvore se lança ao céu movida pelo desejo verde de unir copa às nuvens. O sol passa entre as folhas e lampeja. Lantejoulas invadem a paisagem. Tudo é parênquima, cor, textura. Sacudo meus braços com vistosas ganas infantis: quero o brilho todo só pra mim. Na piscadela seguinte, miro a pequena casa de madeira mais à frente. Azul. Meus olhos percorrem os três degraus vermelhos e encontram a mulher velha parada à porta. De onde estou não vejo seu rosto, mas sei que está a sorrir debaixo de cabelos de algodão. O tempo se arrasta. Minha mãe caminha em direção àquela casa. Um passo, outro e mais outro: estamos no mesmo lugar. Da porta, a velha derrama bênçãos sem precisar tocar nossas testas com ramos de arruda. A reza ancestral ecoa em cada letra que aqui acomodo na tentativa de voltar. Que as palavras chispem entre linhas como quem evoca as graças da benzedeira.